Marcas

Marcas

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Formação é continuidade!

Car@s educadoras(es), depois das reflexões teóricas e das atividades práticas realizadas ao longo da segunda edição do Ìrètí - Formação em Cultura Negra para Educadores vocês acessarão, neste blog, além dos programas de cada um dos módulos com suas respectivas referências bibliográficas, artigos de orientação conceitual dedicados aos educadores e alguns planos de aula para subsidiar a implementação da lei 10.639/03 em sala de aula e outros espaços educacionais com educandos. Ademais, alguns projetos formulados pelos participantes do módulo de Práticas Educativas foram disponibilizados pelos autores como resultado da participação na formação. Este blog é dedicado a espaços de trocas de saberes tanto de caráter formal, como escolas e cursos de especialização, como de caráter não-formal, como ong´s, museus, etc. e está em permanente construção, então atuações colaborativas são bem-vindas!


FESTAS E RELIGIOSIDADE 
Neste módulo de conteúdo é possível encontrar referências sobre religiosidades e festas de matriz africana no Brasil.

ARTES VISUAIS E A CULTURA NEGRA
A fotografia como ferramenta para a construção de novos olhares.

HISTÓRIA
África para educadores. África para sala de aula.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Conclusão do módulo África e Brasil em Perspectiva

por Amanda Carneiro


Da África ao Brasil a viagem é longa, um desafio a ser cumprido em 4 encontros no CEU Tiquatira e em meio a tantas diversidades, singularidades, permanências e contradições. 

Éramos muitos, vencendo o cansaço do dia para a noite trocarmos juntos reflexões e conhecimento. Há algo da experiência humana que é universal e que tratar como igual pressupõe negar essencialismos, estereótipos, imagens estanques, há ainda experiências absolutamente singulares e sobre as quais é preciso entender as diferenças sem exotizar, segregar, estigmatizar. No Brasil tem várias Áfricas e a Africa conheceu a experiência de viver em seu território parte da cultura brasileira, estamos ligados por essa força civilizatória que chegou aqui em um processo violento, como escravizada e que, a partir das suas inúmeras formas de resistência, conformou o nosso país. Conhecer essa História é conhecer a nós mesmos, mas não fosse isso e ainda seria importante. Se basta um passo para não estarmos mais no mesmo lugar, essa formação nos levou quilômetros a frente!






Conclusão do módulo Dança dos Orixás

por Solange Machado

A mitologia e dança dos orixas estimula, encanta, define e educa. Foi com essa visão que iniciei o modulo.

Esse grupo possuía uma curiosidade diferenciada sobre o ponto onde essa afirmação tomaria forma físicaOs professores se tornaram alunos e os alunos professores durante a troca do que já conheciam sobre os orixás do novo e encantado mundo de possibilidades que as historias, a didática, a responsabilidade e a superação que estão guardadas na cultura do nosso povo trazem.

Receberam a cabaça com as sementes, agora cabe a eles espalhá-las. Que seja um novo tempo para todos, com muito axé e sabedoria.






Conclusão do módulo Artes Visuais e a Cultura Negra

por Juliana dos Santos


Iniciei o curso com um breve panorama sobre os lugares do negro nas artes visuais brasileira. O processo de desconstrução de olhares foi proposto a partir de leitura de imagens coletiva, a partir de uma série de fotografas e imagens de diferentes representações do negro ao longo da história da arte brasileira. Desde as pinturas e gravuras dos viajantes do séc. XVI ao XIX e as fotografias dos cartões de visita até a contemporaneidade com artistas negros que retomam estas representações de maneira a ressignificar e tensionar os discursos racistas e preconceituosos. A ideia era ampliar o repertório acerca da produção artística visual afro-brasileira e analisar os discursos que propiciam a invisibilidade e desvalorização da produção artística negra.

A princípio a proposta de atividade prática para cada encontro era a produção de fotografias a partir dos temas e conceitos discutidos em aula. Ao final do curso no último encontro realizaríamos uma pequena mostra com as imagens produzidas pela turma. A realização do exercício fotográfico era fundamental para a construção das pautas para debates e ligação com os discursos dos artistas negros selecionados.

Entretanto muitos professores não realizaram as atividades o que prejudicou um pouco o andamento do curso inicialmente proposto. Vale ressaltar que a grande parte dos professores não tinha contato com os debates de relações étnico-raciais e tampouco acerca da obrigatoriedade do ensino de arte e cultura afro-brasileira e africana pela Lei 10.639/03. Contudo os professores se demonstraram bastante interessados, entretanto a maioria deles não tinham cursado outros módulos do Iretí. Acredito que se eles tivessem a base da discussão conseguiríamos avançar mais na discussão sobre arte.

 Em vários momentos tive que parar o conteúdo para retornar a conceitos básicos de diferenças entre racismo e bulling, cotas raciais e sociais e sobre o termo “racismo ao contrário”. Foi bem difícil trabalhar a desconstrução de estereótipos e debater sobre o racismo institucional nas artes, nos currículos, conteúdos, museus e nas midias.

A experiência foi muito boa no final do curso conseguimos chegar a leituras bacanas acerca da produção artística de alguns artistas negros contemporâneos que usam o registro fotográfico e a reedição de imagens como uma maneira de provocar outras maneiras de olhar para arte. Muitos professores não conheciam nenhum artista apresentado nas aulas e acharam importante tomar conhecimento de outras referências de imagens e de arte para as suas aulas.

 Creio que este módulo seria mais proveitos se fosse continuação de um módulo básico de história, por exemplo. Um fator instigante foi o fato de ter poucos professores de artes inscritos. Ocorreram alguns imprevistos de ordem burocrática, na minha turma tinham cerca de 39 pessoas com muitas dúvidas referentes a certificados e pontuações na DRE. Como eu não sabia responder gerou um pouco de stress, no primeiro dia a Thainá foi, e explicou os processos, mas seria importante se eu tivesse acesso a essas informações com antecedência para repassar aos professores, foi bastante confuso pra mim e para os professores.








Conclusão do módulo Danças Africanas Tradicionais

por Regina Santos


Encontros e reencontros. Assim foi o módulo de Danças Africanas ao meu ver! Numa sexta feira a noite encontrei um auditório quase lotado com muito falatório, olhos curiosos e cheios de expectativa! Assistimos um pequeno vídeo sobre o significado de ritmo na cultura ao longo do continente africano, sim porque ali desvendaríamos essa cortina européia de que a África teria uma única cultura. As primeiras impressões apos o vídeo revelam nossa dissociação com essa herança em nós: " Eles têm muito ritmo". " Lá as crianças aprendem desde cedo". "Eles trabalham com ritmo, com canto e dança, né diferente da gente"... Ali nos lembramos que também temos ritmo pra trabalhar, pra andar, pra mamar, pra ninar, pra caminhar. Lembramos que as crianças aqui também aprendem desde cedo a tocar tambor, a imitar cantores e cantoras, a dançar as danças tradicionais da nossa dita cultura popular, maracatu, batuque, samba, funk...vendo assim que essa "África" esse jeito de ser nem está tão longe de nós! O encontro com a dança revelou outras limitações: " ai cansa, né?" Lá eles já tem preparo", "as pessoas são fortes, treinadas"! quase aquele lance "eles já nascem com ritmo" ou "eu não tenho ritmo viu?" E tantas outras ideias que vamos construindo. Reflexões sobre o surgimento e significado das danças, mostram trabalhadores da terra, da metalurgia, do comércio, senhoras mais velhas, crianças, pessoas gordas, enfim todo tipo de gente dançando a mesma dança, cada um com seu jeito e condicionamento. Outro vislumbre: quem codificou e disse que o canto, a música e a dança não era pra todos? Pra qualquer um? Dançar é estar junto, é mudar nosso estado físico e energético, é se expressar, rir, é viver!!!

Entre dois feriados, nos encontramos ali naquele teatro, compartilhamos histórias, reflexões, pensamentos, impressões, angústias, anseios, situações. Durante nossos encontros um menino foi assassinado no Morro do Alemão no Rio de Janeiro, discussões sobre a redução da maioridade penal inundavam as redes sociais, crianças foram barradas na escola por serem do candomblé ou por terem cabelo no estilo black power, que atrapalha a visão dos coleguinhas, terreiros foram queimados... E ali em meio a isso tudo, num lugar onde as vezes taxi nem chega, atrás de uma ocupação que virou favela, do lado das ruas onde me criei e passei a infância,  refletimos sobre nossa população afrodescendente, sobre nossa negação até hoje da marginalização iniciada com o sequestro e escravidão dessa população e o racismo e preconceito que até hoje diminui radicalmente as oportunidades desse contingente na sociedade.

Mas como nossos antepassados também nos ensinaram sempre há uma maneira de resistir, sempre há uma maneira de transformar e isso é Sobreviver! Por isso também dançamos o amor, a sensibilidade, a afetividade, a sexualidade que promove encontros e gera vida! Pouco a pouco o corpo foi se permitindo vivenciar as danças, a mente foi destravando estereótipos, frustrações e descobrimos na roda de canto, no compartilhamento das histórias de amor, de conquistas, de encontros enlaçadas em simples fios de barbantes que o fio com o passado não se perde, que ele é nosso cordão umbilical para nele adquirirmos esse poder de transformação e esperança para reescrever com nossos corpos novos passos, novas sensações. Saímos renovados e com a certeza que andar pra frente é encontrar o caminho de volta, a nós mesmos, a nossa humanidade...

De volta a região onde nasci, me criei e aprendi e admirei essas pessoas que ficaram acreditaram e mantiveram acesa essa chama para que crianças como eu fossem além-mar e retornassem. "Fui aprender a ler, pra ensinar meus camaradas" com essa frase na marcante na voz de Maria Bethânia nos despedimos na certeza de nossas responsabilidades em aprender com outros olhos, outros corpos, outras culturas, pra ensinar, melhor pra compartilharmos e nos tornarmos camaradas!!






Conclusão do módulo Tempo de Festa

Festas e Religiosidade

por Marcos Felinto

Na segunda edição de Ìretí: formação em cultura negra para professores, notei uma grande maturação dentro do grupo de formadores, que puderam aprimorar suas pesquisas anteriores e traze-las novamente para o âmbito das sociabilizações, com foco e segurança, não sei ainda se falo mais por mim, sei que esta foi a sinalização dada por minha percepção. Os  módulos foram coesos e bem integrados, de modo que compuseram um panorama novo dentro do circuitos de formações para educadores, novo não apenas por sua temática, mas principalmente pelas abordagens propostas.

Me aventurei mais uma vez no sentido de re-pensar festas e ritos afro brasileiros, desta fez criando pequenas situações de troca vibracional, afinal ai está um dos muitos motes para se festejar. Cantamos e tocamos sons do Rosário, sons de Benedito e pensamos e lembramos a partir de nossos corpos o significado dos ritos, das irmandades e das relações transpessoais, movidas por forças que paradoxalmente dependem e independem de nós.  

Pesquisamos em conjunto o corpo, como suporte primeiro para a expressão, manutenção e criação de heranças afro descendentes; as palmas, a dança e o canto coral (voz) nos vieram como fundantes de uma cosmovisão impossível de ser conhecida fora do campo da vivencia.